terça-feira, 31 de julho de 2012

Boas férias

Olá,
Acabei de ler os vossos relatórios e pretendo terminar o meu até ao final desta semana. Em setembro entregarei todos os materiais no CFMS, pois em agosto está encerrado.

Desejo-vos umas excelentes férias, com muito descanso para enfrentarmos setembro com otimismo!

Estarei por aqui e espero que continuem a usar este espaço para partilharem ideias, dúvidas e materiais.

Beijinhos e abraços,
Cristina

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Modificador apositivo do nome e Grupo adjetival

Clarificar!

Tal como vimos, o modificador apositivo do nome é obrigatoriamente separado por vírgulas.
Pode ser realizado por:
grupo nominal:
Cavaco Silva, presidente da República, vai falar à imprensa.
D. Manuel, o rei venturoso, mandou construir a Torre de Belém.
Gil Vicente, autor do século XVI, escreveu inúmeras peças de teatro.

grupo preposicional:
A viagem marítima à Índia, de importância indiscutível para a época, demorou meses.
Os elefantes, com dentes de marfim, atraem os caçadores.

(TAMBÉM) grupo adjetival
A fruta, madura, caía da árvore.
A doença, lenta mas tenaz, matava-o.
os leões, belos e ferozes, inspiram muitos artistas.

Oração subordinada adjetiva relativa explicativa
O meu filho, que está a estudar, tem tirado ótimas notas.
Este bebé, que ainda usa fralda, tem já um vocabulário considerável.
Os arcaísmos, que são frequentes em Gil Vicente, dificultam a compreensão do texto do autor.


PPT7-Frases

quinta-feira, 19 de julho de 2012

PDF do Dicionário Terminológico

Versão PDF do Dicionário Terminológico.

Blogue Contos para crescer

Este é o blogue da colega Eduarda Abreu. Espreitem com os vossos alunos e filhos... aqui!
O endereço está também disponível na lista dos sítios a visitar na coluna do lado direito.


Primeira ficha de avaliação diagnóstica

Colegas, ao clicarem sobre os documentos podem ter acesso à primeira ficha de avaliação diagnóstica (e sua correção).

Primeira ficha de avaliação diagnóstica

Correção da primeira ficha de avaliação diagnóstica

se impessoal vs. se passivo

Caros colegas, seguem as respostas obtidas, de linguístas diferentes, a propósito da diferenciação do "se" impessoal" do "se passivo".
Espero ter ajudado (ou não!!!)
Tomei a liberdade de colocar a vermelho as partes que considero mais úteis.

A minha resposta preferida e que faz mais sentido é a primeira que transcrevo:

Executa-se trabalhos de carpintaria e Executam-se trabalhos de carpintaria. Ambas as Frases estão gramaticalmente correctas? Na afirmativa, qual a preferível?
Dani Torres (Portugal)

Do ponto de vista exclusivamente linguístico, as duas frases estão correctas, importando no entanto analisar ambas as estruturas para as compreender.

Assim, na estrutura da primeira frase (Executa-se trabalhos de carpintaria), estamos perante um pronome pessoal clítico -se, com função de sujeito impessoal que acompanha um verbo no singular, sendo semanticamente equivalente a “alguém executa trabalhos de carpintaria”.

Na estrutura da segunda frase (Executam-se trabalhos de carpintaria), estamos perante um pronome pessoal clítico -se apassivante que surge com um verbo no plural a concordar com o sujeito que é trabalhos de carpintaria, sendo semanticamente equivalente a “trabalhos de carpintaria são executados”.
Do ponto de vista do uso da língua, a estrutura da primeira frase (Executa-se trabalhos de carpintaria) é por vezes desaconselhada por alguns gramáticos. Na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso CUNHA e Lindley CINTRA (Edições Sá da Costa, 1984, 14ª ed., pp. 308-309), há mesmo uma indicação de que “Em frases do tipo: Vendem-se casas. Compram-se móveis. considera-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, razão por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular.”

Bibliografia: João Andrade PERES e Telmo MÓIA, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, 1995, pp. 234-237; José Carlos de AZEREDO, Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, São Paulo: Publifolha, 2008, pp. 274-275; Evanildo BECHARA, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, p. 178.

Diz-se "vendem-se casas" ou "vende-se casas"?
Débora (Portugal)

Do ponto de vista exclusivamente linguístico, nenhuma das duas expressões pode ser considerada incorrecta.

Na frase Vendem-se casas, o sujeito é casas e o verbo, seguido de um pronome se apassivante, concorda com o sujeito. Esta frase é equivalente a casas são vendidas.

Na frase Vende-se casas, o sujeito indeterminado está representado pelo pronome pessoal se, com o qual o verbo concorda. Esta frase é equivalente a alguém vende casas.

Esta segunda estrutura está correcta e é equivalente a outras estruturas muito frequentes na língua com um sujeito indeterminado (ex.:não se come mal naquele restaurante; trabalhou-se pouco esta semana), apesar de ser desaconselhada por alguns gramáticos, sem contudo haver argumentos sólidos para tal condenação. Veja-se, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso CUNHA e Lindley CINTRA [Edições Sá da Costa, 1984, 14ª ed., pp. 308-309], onde se pode ler “Em frases do tipo: Vendem-se casas. Compram-se móveis. considera-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, razão por que na linguagem cuidada se evita deixar o verbo no singular”.

Bibliografia: João Andrade PERES e Telmo MÓIA, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, 1995, pp. 234-237; José Carlos de AZEREDO, Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, São Paulo: Publifolha, 2008, pp. 274-275; Evanildo BECHARA, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, p. 178.

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[Pergunta] «Não se desabotoa as calças em público», ou «não se desabotoam as calças em público»?
Obrigada!

Carolina Ferreira:: Jurista :: Lisboa, Portugal

[Resposta] A partir de frases como «Vende-se casas» e «Vendem-se casas», João Andrade Peres e Telmo Móia dizem na página 237 da 2.ª edição de Áreas Críticas da Língua Portuguesa: «Na nossa opinião, ambas as construções são aceitáveis, embora se possa preferir uma ou outra por razões estilísticas. A nossa posição resulta de dois factores: por um lado a aceitação generalizada por parte dos falantes que o uso do clítico impessoal com verbos transitivos parece ter; por outro lado, o facto de não julgarmos haver razões — estruturais ou semânticas — para aceitar a construção com o clítico impessoal nuns casos e rejeitá-la noutros.»
Esta é a posição prevalecente hoje para construções deste tipo: considera-se que as duas construções estão correctas, sendo o valor do clítico se diferente em cada uma delas. Na frase «Não se desabotoa as calças em público», o clítico se tem valor impessoal; na frase «Não se desabotoam as calças em público», o se tem valor apassivante. O se impessoal indica indeterminação do sujeito, e o verbo que o acompanha é sempre singular, não tendo de concordar com nenhum outro elemento da frase; ao passo que o verbo que acompanha o se apassivante concorda em número com o seu agumento interno (neste caso, as calças).
Importa dizer, no entanto, que gramáticos mais puristas consideravam que o clítico se impessoal não podia ser usado com verbos transitivos. Segundo Napoleão Mendes de Almeida, na sua Gramática Metódica da Língua Portuguesa, em construções deste tipo, com verbo transitivo, o verbo deve concordar com o constituinte que está na posição de complemento (à direita do verbo), uma vez que nestes casos o clítico se expressa passividade. Segundo esta perspectiva, a frase em questão deveria ser «não se desabotoam as calças em público».
Resta acrescentar que se usa o verbo sempre no singular, se não se tratar de um verbo transitivo directo. Diz Mendes de Almeida que se emprega «a vozpassiva com os verbos intransitivos e transitivos indirectos paraindicar impessoalidade, isto é, para indeterminar o sujeito do verbo, ficando o verbosempre no singular» (p. 217). Dá como exemplos «No Rio de Janeiro passeia-se muito» ou «Precisa-se de costureiras».
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Vendem-se casas

[Pergunta] Vende-se ou vendem-se?
As respostas dadas não são esclarecedoras, acho eu... J.N.H. dá 2 respostas contraditórias : ao ler a 1.ª fiquei com uma ideia, ao ler a 2.ª fiquei com a ideia contrária. Ficarei sempre assim ou será possível uma ajuda transparente?

João Florindo:::: Portugal

[Resposta] Na minha opinião e na de muitos gramáticos, o verbo deve empregar-se no plural, porque o sujeito está no plural. Em «vendem-se casas», «colhem-se flores», «batem-se os ingredientes», o sujeito é casas, flores, ingredientes, isto é, os objectos que sofrem a acção, como é de regra na voz passiva. De facto, estas orações estão na voz passiva, por força da partícula apassivante se: é como se disséssemos «casas são vendidas», «flores são colhidas», «os ingredientes são batidos».
Há autores que consideram que o se é pronome indefinido, funcionando assim como sujeito; então estas frases seriam «vende-se casas» = «alguém vende casas», «colhe-se flores» = «alguém colhe flores», etc.
Discordo deles. O se pronome indefinido emprega-se com verbos intransitivos, em frases como «trabalha-se bem nesta casa», «vive-se mal nesta terra»: alguém trabalha, alguém vive – sujeito indefinido, verbo no singular.
Não sei se fui clara... Se foi o caso, pergunte novamente.
T.A.:: 21/01/2003
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Construções com o clítico se

[Pergunta] Sempre estudei que a gramática e o bom senso nunca abonaram a construção se (com função de sujeito) e o pronome o e suas flexões a, os e as (objeto direto), por ser contrária à índole da língua portuguesa.
Uma questão de concurso público, entretanto, afirmou que a construção «podem ser descritas» equivale à construção «pode-se descrevê-las».
Ora, esta última maneira de construir fere precisamente a norma gramatical supramencionada, porquanto o pronome se está claramente exercendo a função de sujeito da locução verbal ou conjugação perifrástica «pode descrever». Conforme tudo o que pude equilibradamente compreender ao longo de mais de vinte anos de dedicação a estudos gramaticais, o modo correto de escrever o equivalente a «podem ser descritas» é «podem-se descrever» ou «podem descrever-se».
O torneio «pode-se descrevê-las», além de agredir hediondamente a tradição gramatical e o gênio da língua portuguesa estreme, não me parece nada passivo, uma vez que o se (função francesa) está desempenhando a função de sujeito, o que vai também de encontro à origem do idioma português (o se do latim não exercia a função nominativa).
Importa-me saber a vossa opinião a respeito dessas considerações.

Paulo Aimoré Oliveira Barros:: Servidor federal :: Garanhuns, Brasil

[Resposta] De facto, como notam Telmo Móia e João Andrade Peres (Áreas Críticas da Língua Portuguesa, p. 237), a este propósito, «[...] o clítico se apassivante acompanha sempre formas de verbos transitivos, flexionados no singular ou no plural consoante o número gramatical do argumento com que concordam [...]:
(1) Comprou-se um livro encadernado;
(2) Compraram-se vários livros para a biblioteca.
Em qualquer destas frases, a expressão com que o verbo concorda é um argumento interno que se realiza numa frase ativa como um complemento direto, razão por que afirmamos estar perante uma construção passiva (de clítico)».
Já no que diz respeito ao clítico se impessoal, referem os citados investigadores (op. cit., pp. 236-237) que «é uma expressão que indica a existência de um sujeito indeterminado numa frase. [...]:
(3) Naquela festa, cantou-se a noite inteira.
(4) Vive-se bem em países de clima mediterrânico.
(5) Ouve-se ruídos durante a noite.
Este clítico impessoal acompanha sempre formas verbais singulares. As frases em que ele ocorre são frases de sujeito indeterminado em que o verbo surge numa forma de terceira pessoa do singular, não concordando com qualquer expressão da frase. Distingue-se, pois, neste aspeto, do clítico apassivante, que pode ser combinado [...] com formas verbais singulares e plurais. [...] o clítico impessoal distingue-se ainda do clítico apassivante no que respeita ao tipo de verbos com que se pode combinar. Com efeito, pode surgir tanto em frases com verbos intransitivos [cf. (3) e (4), em que temos os verbos cantar e viver, respetivamente], como em frases com verbos transitivos [cf. (5), em que temos o verbo ouvir]. Já o clítico se passivo só é compatível [...] com verbos transitivos».
A propósito, justamente, do aspeto que salienta o prezado consulente, dizem ainda Móia e Andrade que «importa notar que alguns puristas apenas admitem as construções em que o clítico se impessoal se combina com verbos intransitivos, rejeitando, pois, frases em que o verbo é transitivo e tem um segundo argumento não preposicionado com que não concorda», como acontece no enunciado aqui proposto – «pode-se descrevê-las» –, bem como nas seguintes frases:
(6) «Ouviu-se ruídos durante toda a noite.»
(7) «Recitou-se versos de Pessoa.»
(8) «Vende-se casas.»
Deste modo, propõem os referidos puristas em alternativa a este tipo de estruturas as seguintes construções passivas de clítico, em que o verbo surge na forma plural:
(9) «Ouviram-se vários ruídos durante a noite.»
(10) «Recitaram-se versos de Pessoa.»
(11) «Vendem-se casas.»
Na opinião de Telmo Móia e João Andrade Peres (com a qual concordo inteiramente), «ambas as construções são aceitáveis, embora admitamos que se possa preferir uma ou outra por razões estilísticas». Chega-se a esta conclusão por dois motivos essenciais: «por um lado, a aceitação generalizada por parte dos falantes que o uso do clítico impessoal parece ter; por outro lado, o facto de não julgarmos haver razões – estruturais ou semânticas – para aceitar a construção com o clítico impessoal nuns casos e rejeitá-la noutros.»
Assim, e para tentarmos sistematizar, «podemos dizer que, se numa dada frase a forma verbal é plural, então só podemos estar perante um se passivo [razão pela qual considero, na linha do defendido pelo prezado consulente, que a proposta feita no citado concurso não me parece correta, devendo a opção válida entroncar na sugestão aqui apresentada – «podem-se descrever» ou «podem descrever-se»]. Por outro lado, se a forma verbal é intransitiva, então só podemos estar perante um se impessoal».
No que concerne «aos casos em que a forma verbal é transitiva e singular, pode verificar-se uma de duas situações: ou o segundo argumento do verbo é plural — caso em que não concorda com o verbo —, e estamos perante uma construção impessoal do tipo que referimos não ser aceite por alguns puristas [cf. (5)], ou o segundo argumento é singular [cf. (1)]. Admitimos duas possibilidades de análise estrutural deste último tipo de frases – como construções passivas (em que um argumento interno – neste caso, um livro encadernado – é sujeito) e como construções impessoais (em que temos um sujeito indeterminado e o argumento interno é complemento direto). Podemos, pois, dizer que frases como (1) são estruturalmente ambíguas. Trata-se, no entanto, de uma ambiguidade estritamente sintática, que não tem consequências ao nível semântico, já que a informação veiculada é a mesma nas duas construções» (op. cit., p. 238).
Tendo em conta, portanto, o raciocínio exposto, resta-me referir que, numa visão mais lata (isto é, menos purista) do funcionamento da língua portuguesa, julgo que a construção «pode-se descrevê-las» deverá ser aceite, o que não invalida, como é evidente, o erro de apreciação que terá sido sustentado no concurso público referido pelo consulente, pois, ainda fundamentados no exposto, efetivamente, parece não haver dúvidas de que a formulação «podem ser descritas» é passiva.

Pedro Mateus:: 05/03/2012



PPT6-Funções sintáticas

segunda-feira, 16 de julho de 2012

PPT4-Classes de palavras

Algumas respostas do Ciberdúvidas - Morfologia


Fim de semana = composto morfossintático

[Pergunta] Palavras como malmequer, claraboia, língua da sogra, fim de semana, em que não é possível deduzir o seu significado a partir dos elementos que as constituem, são palavras com estrutura complexa, mas que, quanto ao significado, se assemelham a palavras simples.
Quando expliquei que fim de semana era uma locução e que, com o novo Acordo Ortográfico, perdia os hífenes, classifiquei-a de composto morfossintático. Estarei correta, ou tratar-se-á de uma palavra simples. Na TLEBS falava-se em palavras lexicalizadas.

Cristina Fontes:: Professora :: Braga, Portugal

[Resposta] À luz do Dicionário Terminológico (DT), destinado a apoiar em Portugal o ensino da gramática no ensino básico e secundário, a palavra fim de semana não é uma palavra simples, é uma palavra complexa, formada por composição morfossintática.

Segundo o DT, palavras como caseiro e casa de banho são palavras complexas, sendo a primeira formada por derivação, e a segunda, por composição. A palavra fim de semana, de estrutura idêntica a casa de banho, porque apresenta dois substantivos ligados por uma preposição, é, por isso, um composto. Como a estrutura destes compostos depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, diz-se também que são compostos morfossintáticos (cf. idem).

Quanto à palavra locução, é um termo genérico usado, no Acordo Ortográfico de 1990, para referir a grafia de certos compostos.

Carlos Rocha:: 13/03/2012
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As palavras compostas e o AO

[Pergunta] No estudo das palavras compostas numa turma do 5.º ano de escolaridade, surgiu a seguinte dúvida: uma vez que, ao abrigo do novo acordo ortográfico, nas palavras como fim-de-semana, cor-de-vinho ou fios-de-ovos suprime-se a grafia do hífen, considera-se, da mesma forma, que são palavras compostas, ou a terminologia é deferente? Tenho a impressão de que os alunos poderão perder, de certa forma, a noção de palavra se classificar, por exemplo, fim de semana como uma palavra composta. Desde já agradeço a vossa colaboração.

Lúcia Maciel:: Professora :: Viana do Castelo, Portugal

[Resposta] As palavras fim de semana, cor de vinho ou fios de ovos continuam a ser compostos.

Se o hífen não é critério para distinguir palavras derivadas de palavras compostas (infeliz vs. guarda-roupa, mas pré-história, com prefixo), então também não o deve ser para rejeitar fim de semana como palavra composta. Por outras palavras, há expressões que contêm elementos de ligação, não têm hífen e são também compostos — morfossintáticos, como neste caso. Note-se que o próprio Dicionário Terminológico apresenta como composta uma expressão sem elemento de ligação como via láctea (muito embora se trate de palavra tratada como nome próprio, que exige maiúsculas iniciais: Via Láctea — cf. Dicionário Houaiss).

Esta situação dificulta, sem dúvida, o reconhecimento de tais compostos, porque passam a confundir-se com outras expressões que não se usam como unidades lexicais, mantendo a sua composicionalidade (isto é, a autonomia semântica dos seus elementos; cf. pôr do sol, palavra composta vs. «livro do rapaz», expressão constitutiva de um grupo nominal em «o livro do rapaz caiu ao chão»).

Sei, contudo, que a prática lexicográfica (ver Dicionário Houaiss de 1999) leva a que estes compostos que incluem preposições não tenham entrada própria, mas apareçam como subentrada de uma das palavras constituintes: ou seja, o composto fim de semana encontra-se no verbete correspondente a fim ou a semana. Não é assim, porém, que o Vocabulário Ortográfico do Português os elenca, antes lhes atribuindo entrada própria.

Em suma, os compostos não hifenizados que incluam preposições ou outros elementos de ligação (pôr do sol, dia a dia) e não designem espécies botânicas ou zoológicas são palavras compostas. Em contexto escolar, será, pois, necessário ter em conta que há compostos que, por se escreverem sem hífen, se confundem com grupos sintáticos.

Carlos Rocha:: 10/02/2012
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Palavras lexicalizadas

[Pergunta] No dia 17/11/06, li uma resposta sobre o tema em epigrafe que dizia que “amor-perfeito” e “água-pé” eram palavras lexicalizadas porque «a palavra complexa lexicalizada deixou de ter uma estrutura composicional, isto é, não existe nenhum processo de formação de palavras no português contemporâneo que permita gerar palavras como estas». Ora muito honestamente não consigo adequar esta definição às palavras em causa. A mim parecem-me ser antes compostos morfossintácticos tais como “decreto-lei”, “couve-flor”, etc. Será que me podem elucidar?

Manuela Cunha:: Professora :: Porto, Portugal

[Resposta] Na verdade, a estrutura de cada uma destas palavras parece seguir o padrão dos compostos morfossintá(c)ticos (amor-perfeito = N + Adj., água-pé = N + N) e não há grande problema que seja assim explicado aos alunos. Mas repare que na formação do plural já começa a reflectir-se um fenó[ô]meno de lexicalização de água-pé: água-pés (ainda ocorre “águas-pés”).

Em termos de transposição didá(c)tica, não é a designação que nos interessa mas a compreensão do que está por detrás dessa designação. A explicação de que se trata de palavras lexicalizadas envolve dois planos de análise:
1. significado da palavra complexa;
2. geração de novas palavras complexas, seguindo a mesma estrutura composicional.

Vejamos o plano do significado destas palavras complexas: em nenhuma delas, amor-perfeito e água-pé, o sentido da palavra final é a soma, o resultado, dos sentidos do N + Adj. ou do N + N que as compõem: amor-perfeito é uma flor, e água-pé, um vinho aguado. Isto não acontece com os termos que utilizou como exemplos: decreto-lei é um decreto que é lei, couve-flor é uma couve que tem a forma de uma flor. Daí que possa agora, talvez, ficar mais transparente o 2.º plano de análise: como gerar novas palavras complexas, do gé[ê]nero de amor-perfeito ou água-pé, se não temos processo de formação de palavras que nos ensine a fazê-lo? Ou seja, a estrutura composicional, quanto ao sentido, perdeu-se. Daí que se diga que «a palavra complexa lexicalizada deixou de ter uma estrutura composicional, isto é, não existe nenhum processo de formação de palavras no português contemporâneo que permita gerar palavras como estas». Pouco a pouco, estas palavras entrarão na língua como palavras simples, fica para trás o sentido inicial que lhes deu origem. Veja a palavra embora: quantos sabem que já foi «em-boa-hora»? O que interessa para os alunos? Que saibam que estas duas palavras, amor-perfeito e água-pé, ainda são palavras complexas. São compostos, cuja estrutura é igual a N +Adj. e N + N, respectivamente. A primeira segue a regra geral de formação do plural dos compostos com esta estrutura, a segunda já está a seguir a regra geral de formação do plural das palavras simples.
Espero ter contribuído para o esclarecimento da sua dúvida.

Filomena Viegas

GramáTICª.pt
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Os afixos de flexão

[Pergunta] Quais são os afixos considerados de flexão, inerentes às palavras simples?

Maria João Cunha:: Professora :: Vila Real, Portugal

[Resposta] Dependendo da palavra simples, ela poderá variar em género e em número, se se tratar de um nome ou de um adjetivo. Poderá variar em número, pessoa, tempo e modo, se for um verbo. Os elementos envolvidos nesta variação das palavras constituem os afixos de flexão, que se distinguem dos outros pelo facto de a palavra continuar a ser simples mesmo quando mudado o afixo, ou quando há mais de um afixo, como é o caso da palavra meninas, que tem o afixo de género -a e o afixo de plural -s.

Edite Prada:: 07/11/2011
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Radical, base e palavra simples no ensino em Portugal

[Pergunta] Estamos a programar o próximo ano letivo e eu e as minhas colegas deparámo-nos com a seguinte dúvida: como explicar a alunos de 5.º ano a noção de radical/forma de base/palavra simples? Será necessário abordar todos estes conceitos?

Muito obrigada pelos possíveis esclarecimentos prestados.

Aurora Saraiva:: Professora :: Lisboa, Portugal

[Resposta] Compreendo a preocupação, sobretudo num ano em que, em Portugal, todos os programas de Português do ensino básico vão entrar em vigor. Ao entrarem todos em vigor ao mesmo tempo, poderão acontecer perplexidades como a que é apresentada. Futuramente, quando ao 5.º ano chegarem alunos a quem já tenha sido veiculado o programa que vai entrar em vigor no próximo ano lectivo, essa questão colocar-se-á com menos acuidade, uma vez que os aspectos referidos são de aquisição explícita no 1.º ciclo, como se pode verificar na página 55 dos novos programas.
Se tivermos em conta o que se refere no programa anterior do 1.º ciclo, verificamos que não é explicitado esse conteúdo, sendo a referência mais próxima a que surge na p. 159: «Organizar famílias de palavras (segundo critérios diversificados).» É provável, pois, que os alunos se confrontem pela primeira vez com essa terminologia, não por ser nova, mas por não ser de explicitação obrigatória no ciclo de que vêm.

A problemática das famílias de palavras mantinha-se no programa do 5.º ano, ao passo que os conceitos de derivação e de composição eram abordados, segundo o programa que esteve em vigor até ao anterior ano lectivo, no 6.º ano (página 44 do programa). Imagino que seria aqui, no 6.º ano, que se impunha a introdução de termos como prefixo e sufixo.

Voltando à forma de abordar estes conceitos, na página 55 dos novos programas, já referida, na nota 1, refere-se como sugestão de actividades para a identificação de radicais e de afixos o seguinte: «Actividades que permitam descobrir que os afixos são portadores de sentido; descobrir o sentido mais frequente de alguns afixos (ex. –inho com sentido diminutivo; in- com sentido de negação).»

Por seu lado, na página 93 do novo programa, há, também, algumas indicações, nas notas 6 a 8, que poderão ajudar a abordar a questão. Por exemplo, na nota 6, refere-se a identificação de padrões de formação de palavras.

Na nota 7, explicita-se o trabalho com o sufixo -mente, que, de alguma forma, completa o que se diz na nota 6, uma vez que há uma regularidade, ou um padrão: aplica-se o sufixo ao feminino dos adjectivos…

Na nota 8 sugere-se a comparação de palavras para descobrir a sua formação.

Quanto à pergunta sobre a necessidade de abordar esses conceitos, uma vez que eles são do ciclo anterior, não vejo como não o fazer, até porque eles se tornam necessários para o desenvolvimento dos conhecimentos explícitos relativos à derivação e à composição, que, essas, sim, são de explicitação obrigatória no 2.º ciclo, mas não necessária e exaustivamente no 5.º ano.

Como abordar estes conceitos? Devo, antes de mais, referir que a didáctica do 2.º ciclo não é o meu forte, dado ser professora do 3.º ciclo e do secundário. Todavia, parece-me que o estudo das famílias de palavras pode servir de pretexto para introduzir estes conceitos. Ilustro com uma lista de palavras da família de doce: doce; agridoce; adoçar; docinho; doçura; adoçante; adocicar; adocicado; arroz-doce; batata-doce; delicodoce; doceira; docemente; erva-doce; adocicadamente.

Como é que os alunos conseguem fazer, ou identificar, uma família de palavras? Qual é o elemento que permite fazê-lo? Bom! Temos o radical… Mesmo quando na palavra há mais de um, como acontece em agridoce, delicodoce, arroz-doce, erva-doce e batata-doce, a família de palavras está construída em torno do radical doc... Como é que sabemos que o radical não é doce e, sim, doc? É só reparar em palavras como doce, docinho, adoçar. A vogal junto à consoante c muda, pelo que não faz parte do radical. Qual é a palavra que mais se aproxima do radical? Essa será uma palavra simples… As outras têm elementos que se podem unir a outras palavras para construir sentidos novos ou palavras novas: a- (linha: alinhavar; massa: amassar, fixo: afixar, etc.); -ura (amargo: amargura; aberto: abertura; armar: armadura, etc.); -inho (doce: docinho; rapaz: rapazinho, etc.). Acontece que esses elementos (a-, -ura e -inho) não têm vida própria, ou seja, não podem surgir sozinhos. Só fazem sentido associados a um radical. Por isso se chamam afixos, porque se afixam a um radical, ou a uma base…

Como falaremos de base? Base é, no Dicionário Terminológico (DT), um «[c]onstituinte morfológico, que inclui obrigatoriamente um radical, a partir do qual se formam novas palavras. Exemplos "doc-" é a base para "adoçar"; "adoça-" é a base para "adoçante".»

Se voltarmos à nossa família de palavras, e tendo em conta o que o DT refere, poderemos concluir que, em alguns casos, a forma de base se confunde com o radical. Noutros casos, ao radical já foram anexados outros afixos que o fizeram mudar, por exemplo, de classe de palavras. É o que acontece com adoçar, em que a doc, se acrescentou -ar, sufixo que serve para criar verbos. Ou com adocicar, que contém o sufixo -icar, que forma verbos veiculando, simultaneamente, uma ideia de diminutivo. Tanto o verbo adoçar como o verbo adocicar permitem associar à sua base outros sufixos para criar novas palavras, como é o caso de adocicado, adocicadamente, adoçante, adoçado...

Creio que poderão consultar com proveito as fichas para o 2.º ciclo que são apresentadas na página da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC). Na ficha 5 de CEL (Conhecimento Explícito da Língua), no exercício 2, há propostas de actividades que podem ser utilizadas para trabalhar esta temática.

Bom trabalho!

Edite Prada:: 28/07/2011
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A formação de vinagre, aguardente e fidalgo no Dicionário Terminológico

[Pergunta] Gostaria de saber onde se insere, no Dicionário Terminológico, a formação das palavras (antes denominadas de compostas por aglutinação) vinagre, aguardente, fidalgo e outras semelhantes.

Obrigada.

Rosélia Fonseca:: Professora :: Funchal, Portugal

[Resposta] Aglutinação é um termo que designa a forma que a palavra composta adquire. No Dicionário Terminológico (DT), como também na Gramática da Língua Portuguesa, de Mira Mateus e outras, e ainda na obra de Margarita Correia e Lúcia Lemos, Inovação Lexical em Português, Edições Colibri, 2005, opta-se por uma designação que tem como base não a forma que a palavra adota, mas, sim, o tipo de relação, ou, melhor, o tipo de estrutura de cada palavra que vai entrar na composição. E essa relação pode ser morfológica, se se estabelece ligação entre um (ou mais) radical e uma palavra, ou morfossintática (para Margarita Correia, na obra referida, sintagmática), se a ligação se estabelece entre duas palavras (independentemente da presença do hífen).

Com base na definição constante no DT, poderemos dizer que vinagre e aguardente são compostos morfológicos, respetivamente vin + agre e agu + ardente. O caso de fidalgo causa algumas dificuldades de classificação. Se tivermos em conta a sua estrutura-base original, digamos assim, o que temos é uma expressão composta por duas palavras, ou, melhor, dois nomes, relacionadas entre si por uma preposição, filho de algo, não sendo comum a representação destas estruturas lexicalizadas com a forma aglutinada. Por outro lado, a classificação da forma fi- como radical de filho [latim filiu(m)] poderá ser problemática.

A questão que se coloca, e tendo em conta a necessidade de veicular os conceitos referentes à composição em contexto escolar, é a pertinência de utilizar exemplos cuja formação de base já não é sentida pelo alunos. Na verdade, fidalgo está atestada como palavra, segundo o dicionário Houaiss, desde o séc. XIII; vinagre, desde o séc. XIV, e aguardente, desde o séc. XV.

Do ponto de vista diacrónico da língua, são palavras compostas, mas do ponto de vista sincrónico, que nos deve levar a estudar a língua hoje e com as mudanças de hoje, pode não ser pertinente estudar exemplos cuja estrutura os alunos já não sejam, intuitivamente, capazes de identificar. Isso prende-se, claramente, com o exemplo fidalgo. Já com vinagre e com aguardente creio que o problema se não coloca de forma tão intensa. E coloca-se ainda menos se tivermos em conta que um dos exemplos de composto morfológico do DT é agricultura, identificada, no dicionário já referido, como palavra desde o séc. XV.

Em síntese, as três palavras em apreço são compostos morfológicos, constituindo fidalgo uma exceção, que pode dificultar a sua utilização para veicular regras gerais de formação de palavras.

Edite Prada:: 24/05/2011
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Mais duas gramáticas


Gostei bastante de ambas! Uma aquisição a considerar.



domingo, 15 de julho de 2012

PPT3-Morfologia

PPT3-Morfologia
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PPT2-O Dicionário Terminológico

PPT1-Apresentação da ação

Textos de Teolinda Gersão e de Helena Mira Mateus

Texto de Teolinda Gersão

Texto de Maria Helena Mira Mateus

Gramáticas e auxiliares

Segue-se uma lista de algumas gramáticas e auxiliares. Os comentários que acompanham as imagens são pessoais.

 Gosto particularmente desta gramática devido aos exercícios que se encontram no final de cada domínio. Contém algumas incongruências face ao DT, nomeadamente nas conjunções e advérbios.

 Esta gramática tem como ponto forte ter como consultor científico o professor João Costa, um dos autores dos novos programas de português.
A gramática para o 2.º ciclo é bastante apelativa..


Consulto frequentemente esta gramática. Tem excelentes esquemas-síntese.


Esta gramática vem acompanhada por um livro de exercícios, mas tem muitas incongruências relativamente ao DT. Uso-a, sobretudo pelos exercícos. Gosto da parte da Sintaxe.

Auxiliares que agregam as principais alterações do DT e do Acordo Ortográfico. No da Lisboa Editora são apresentados os conteúdos de CEL. Úteis para usar nas aulas.

Pequeníssimos tira-dúvidas sobre o antes e o depois. Úteis para usar nas aulas.
Apresenta os termos do DT, se bem que ainda refira a TLEBS (!). Não vejo utilidade de momento.

Uso frequentemente. Julgo ser um bom investimento.

Ambos são interessantes. Existem também para o 8.º ano. Não vejo necessidade de comprar ambos.

Não aborda só a gramática. Interessante como complemento.